Medicina Geral e Familiar
Drª. Mónica Lopes
“O médico a sério é o maior dos camaleões. Tem de se revestir das cores da família que está à sua frente se quiser compreender a natureza das queixas, porque todas elas estão vestidas de cultura, de um código próprio a que temos de pertencer por uns momentos, como o explorador terá de falar o dialecto da tribo distante, se quiser saber o caminho por onde se vai mais além.”
(N.L Antunes, em Vida em mim)
A Medicina Geral e Familiar é de facto a especialidade em que esta descrição se encaixa na perfeição. O Médico de Família tem mesmo de vestir o papel do camaleão; tem de se revestir de capacidades humanas, científicas, éticas e morais, para corresponder ao apelo de cada família, de cada indivíduo, com todas as suas particularidades, respeitando as suas crenças e valores.
Além do conhecimento do indivíduo, como ser único, precisa investir no contexto individual e colectivo do mesmo, seja nas atividades, no contexto sócio-profissional, na saúde do próprio, como na sua envolvência familiar, nos seus contactos. Em suma, necessita encarar cada indivíduo ou família como um todo, de forma holística. Precisa conhecer os seus medos, as suas perspetivas; envolver-se quanto baste para corresponder às expectativas do utente.
Dentro deste panorama, o Médico de Família está presente em várias vertentes da saúde do utente.
Desde o nascimento até à morte, desde a infância até à velhice; partilhando boas e más notícias. Importa ressalvar o papel fundamental deste clínico na vertente preventiva: não só cura doença e acompanha o seu desfecho e consequências, como enceta medidas para prevenir doenças, para manter saúde.
A prevenção primária baseia-se fundamentalmente em medidas para evitar problemas de saúde. Desde as vacinas, medidas anti-tabágicas, combate ao consumo abusivo de álcool e até mesmo a chamada “consulta de rotina” são medidas de prevenção de singular importância. O que se entende por consulta de rotina não é a realização de análises todos os anos, o que nem sempre corresponde a uma boa prática clínica.
É sim um contacto privilegiado para ambas as partes, em que se pretende conhecer o utente, a sua família, as condições em que trabalha, hábitos e cuidados alimentares, entre outras características. Abordar temas mais tabu, como por exemplo, a sexualidade.
Quando abordamos a prevenção secundária, falamos de deteção precoce de lesões, tarefa importante do Médico de Família. Esta permite encontrar doença numa fase inicial e assim evitar a sua evolução, com necessidade de tratamentos agressivos. Dentro desta vertente estão os vários rastreios recomendados de acordo com a idade, como sejam o do cancro da mama, do cancro do colo do útero e do cancro colo-retal.
No âmbito da prevenção terciária, é dada importância ao tratamento do problema para evição das suas consequências.
É ainda importante o acompanhamento de sequelas de doença e evição de tratamentos desnecessários ou eventualmente inúteis. E aí chamamos de prevenção quaternária.